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Vírus Influenza Detectados no Estado do Rio Grande do Sul Durante 2006 e 2007

Influenza Viruses Detected in the State of Rio Grande do Sul, Brazil, During 2006 and 2007

Autores: Tatiana Schäffer Gregianini; Tatiana Gasperin Baccin; Fernando Couto Motta; Marilda Mendonça Siqueira
Assuntos: Influenza humana; Doenças respiratórias; Rio Grande do Sul

INTRODUÇÃO

Vírus respiratórios são responsáveis por uma proporção significativa de enfermidades, em todas as faixas etárias, com elevação da morbidade e mortalidade infantil, principalmente nos meses frios. Estes vírus são sazonais, com tropismo celular para vários tecidos do trato respiratório. A transmissão interpessoal pode ocorrer direta ou indiretamente através de perdigotos e fomites. Diferentes patógenos podem produzir doenças respiratórias com sintomas clínicos similares exigindo o constante aperfeiçoamento do sistema de vigilância para identificação dos principais agentes etiológicos virais (influenza A e B, vírus sincicial respiratório (VSR), adenovírus e parainfluenza tipos 1, 2 e 3).

O vírus influenza tem três tipos antigenicamente distintos: A, B e C. As epidemias são causadas pelos tipos A e B. O tipo C provoca doença subclínica e não ocasiona epidemias. A Influenza tem um comportamento sazonal e os vírus circulam em diferentes épocas nos dois hemisférios. A diversidade antigênica dos vírus A está associada ao surgimento frequente de novas cepas. No entanto, alguns vírus podem persistir no mesmo local e continuar circulando, subclinicamente, dentro da população, re-emergindo na estação subsequente de influenza com baixa troca genética (TANG E COLS., 2008; RUSSEL ET AL. 2008). Os vírus influenza B podem ser divididos em duas linhagens antigenicamente distintas, representadas pelos vírus B/Victoria/02/87 e B/Yamagata/16/88 (CENTER FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2008). No entanto, a sazonalidade para estas duas linhagens, atualmente co-circulantes, é pouco conhecida, e outros estudos filogenéticos são necessários.

Vacinação é a melhor opção para a redução da gravidade da doença (LUKE; SUBBARAO, 2006). A Organização Mundial da Saúde faz duas recomendações para a composição da vacina, (dois subtipos de A e um de B), baseadas nas cepas circulantes no ano anterior nos hemisférios Norte e Sul (CENTER FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2008). Desta forma, o conhecimento dos subtipos antigênicos e moleculares de Influenza circulantes nas comunidades é de extrema importância para a eficácia da vacina.

O monitoramento da influenza humana é realizado através de uma rede mundial de vigilância do vírus, da qual o Brasil participa através do Sistema Nacional de Vigilância da Influenza do Ministério da Saúde (www.saude.gov.br/svs). Utiliza-se uma estratégia de vigilância sentinela, baseada numa rede de unidades de saúde (atenção básica e pronto atendimento) e de laboratórios de diagnóstico. A rede nacional de laboratórios para o diagnóstico de Influenza é composta por 27 laboratórios estaduais, dois laboratórios de fronteira (Uruguaiana e Foz do Iguaçu), dois laboratórios de referência regional e um laboratório de referência nacional (Fig. 1). No Rio Grande do Sul, a captação das amostras é realizada em três unidades sentinela (Porto Alegre, Uruguaiana e Caxias do Sul) e processada no Laboratório Central de Saúde Pública do Estado (IPB-LACEN/FEPPS).

METODOLOGIA

Secreção nasofaríngea de crianças e adultos com síndrome gripal (indivíduo com doença respiratória aguda de até cinco dias de sintomas apresentando febre, tosse ou dor de garganta, na ausência de outros diagnósticos) provenientes das três unidades sentinelas do Rio Grande do Sul (quinze amostras semanais), foi coletada no período de 2006 a 2007.

As amostras foram processadas para um diagnóstico rápido de influenza por imunofluorescência indireta - IFI (ANDERSON, 1985) e também testadas para adenovírus, parainfluenza e VSR. As amostras positivas para Influenza foram encaminhadas ao Laboratório Nacional de Referência para influenza (FIOCRUZ/RJ) para isolamento viral, e identificação antigênica e genômica dos subtipos virais.

A identificação laboratorial dos vírus respiratórios utiliza, habitualmente, métodos diagnósticos diretos (isolamento viral e imunofluorescência) e moleculares baseados na metodologia da Multiplex RT-PCR (transcrição reversa associada à reação em cadeia da polimerase), em sua maioria (ELLIS; ZAMBON, 2002).



RESULTADOS E DISCUSSÃO

Do total de amostras de secreção nasofaríngea analisadas no biênio 2006-2007, 249 (32%) foram positivas para síndrome gripal viral, das quais 152 (61%) para influenza, sendo 132 para influenza A e 20 para influenza B. Nas demais amostras foram identificados vírus sincicial respiratório (VSR) (39); adenovírus (11), parainfluenza tipo 1 (12), parainfluenza tipo 2 (3) e parainfluenza tipo 3 (32).

Observando a circulação anual de vírus verificou-se uma frequência maior do influenza A em ambos os períodos analisados, nas três unidades sentinela (Fig. 2). A circulação do subtipo B foi significativamente maior (p = 0,004) no ano de 2006, especialmente em Porto Alegre (p = 0,020). Diferentemente do observado em outras regiões do mundo - maior prevalência do vírus influenza B em faixas etárias extremas (CENTER FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2008) - o vírus foi encontrado somente na população de cinco a 59 anos. No ano de 2007 houve um aumento do vírus parainfluenza tipo 3 em todas as unidades sentinela, principalmente em Caxias do Sul (p = 0,032), sugerindo a ocorrência de surto respiratório, mesmo com a amostragem sendo direcionada para síndrome gripal. A prevalência do VSR foi semelhante em ambos os períodos (p = 0,126).

A maior atividade do vírus influenza, medida pela distribuição sazonal de amostras positivas em 2006 e 2007, ocorreu no mês de julho de 2006 e junho e julho de 2007 (Fig. 3). No ano de 2006 houve a circulação concomitante dos subtipos A e B de junho a setembro, enquanto em 2007 os dois circularam em momentos distintos, com o subtipo B surgindo na população em agosto, coincidindo com a diminuição da circulação do subtipo A, e persistindo até o final do ano.

Cento e quarenta e uma das 152 amostras com vírus influenza identificados por IFI foram enviadas à Fiocruz/RJ e testadas por Multiplex RT-PCR. Destas, onze não puderam ser caracterizadas molecularmente. Este resultado pode estar associado a falhas no protocolo molecular, ou na degradação do RNA durante o transporte da amostra ao Rio de Janeiro, hipóteses que serão analisadas posteriormente por reteste da amostra.

As 126 amostras caracterizadas (Tabela 1) mostraram co-circulação das variantes A/H3 e A/H1, com predomínio de A/H3 nos dois anos, e aumento nos isolamentos deste subtipo, absoluto e relativo, este de 53% em 2006 para 83% em 2007. Observou-se também, uma diminuição da circulação do vírus influenza tipo B (de 27% em 2006 para 7,7% em 2007; p = 0,01), embora o protótipo viral presente na vacina tivesse identidade filogenética com apenas umas das variantes que circularam na população (B/Malaysia/2506/04), como visto na Figura 4. A circulação do vírus H1 reduziu entre 2006 e 2007 (19 e 9%).

Com relação à identidade filogenética, o vírus influenza A/H3 detectado em 2006 foi o A/Arizona/4/06-like. Duas outras variantes circularam em 2007: A/North Carolina/2/07 e A/Guam/AF1043/07. O subtipo de A/H1 em 2006 foi A/Delaware/2/06-like e em 2007 foi A/Busan/3/07. Tanto em 2006, quanto em 2007 houve circulação das duas linhagens do vírus influenza B: B/Shanghai/36/02-like (L. Yamagata) e B/Malaysia/2506/04 (L. Victoria), confirmando o observado por Barr et al. (2003) quanto à co-circulação de linhagens distintas antigênica e filogeneticamente do subtipo B por longos períodos na população. Ao contrário do vírus influenza A, os vírus influenza B co-circulam com a variante dominante durante um surto epidêmico, permitindo a reemergência de variantes antigas e o rearranjo entre cepas (MOTTA et al., 2006).



As composições vacinais para 2006 e 2007, definidas a partir das correlações com as identidades antigênicas e filogenéticas das variantes circulantes em 2005 e 2006, mantiveram, para ambos os períodos, o protótipo New Caledonia/20/99-like virus para o subtipo A/H1. Para o subtipo A/H3 foram recomendados os protótipos A/California /7/04-like virus em 2006 e A/Wisconsin/67/05-like virus em 2007 (Figura 4). A comparação das identidades filogenéticas das cepas do subtipo A circulantes no Brasil em 2007 indicou identidade vacinal com os protótipos A/Salomon Islands/3/2006-like virus para o A/H1 e A/Brisbane/10/2007)-like virus para o A/H3 (dados não mostrados), recomendados para a composição da vacina do Hemisfério Sul em 2008 (www.who.int/csr/disease/influenza). Por outro lado, a recomendação do protótipo B/Florida/4/2006-like virus (L. Yamagata) para o influenza B, com decréscimo de prevalência no biênio analisado e identidade filogenética para apenas 25% das cepas circulantes no RS em 2007, é representativa das amostras circulantes nos países do hemisfério sul. Paralelamente ao consolidado nacional sobre as informações do vírus influenza, as avaliações antigênica e genômica dos eventos locais contribuem para melhor elucidar o conhecimento da influenza no país.



REFERÊNCIAS

ANDERSON, L. J. et al. Antigenic characterization of respiratory syncytial virus strains with monoclonal antibodies.  Journal of Infectious Diseases, n.151 v. 4, p. 626-633, 1985.
BARR, I. G et al. Reassortants in recent influenza A and B isolates South East Asia and Oceania.  Virus Research, v. 98, n.1, p. 35-44, 2003.
CENTER FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION - CDC. Influenza Activity --- United States and Worldwide, 2007--08 Season.  MMWR, v. 57, n. 25, p. 692-697, jun. , 2008.
ELLIS, J. S. ; ZAMBON, M. C. Molecular diagnosis of influenza. Reviews in Medical Virology, v.12, n. 6, p. 375-389, nov../dec., 2002.
LUKE, C. J. ; SUBBARAO, K. Vaccines for Pandemic Influenza.  Emerging Infectious Diseases, v. 12, n.1, p. 66-72, 2006.
MOTTA, F. C. et al. Reappearance of Victoria lineage influenza B virus in Brazil, antigenic and molecular analysis.  Journal of Clinical Virology, v. 36, n. 8, p. 208-214, 2006.
RUSSEL, C. A. et al.. The Global Circulation of Seasonal Influenza A (H3N2) Viruses.  Science, v. 320, n. 5874, p. 340-346, 2008.
TANG, J. W. et al. Seasonality of Influenza A (H3N2) Virus: a Hong Kong Perspective (1997-2006).  PLoS One, v.3, n.7, e2768, jul. 2008.

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Boletim de Saúde - ESP/RS